Que Raquel continue implacável

Sai Rodrigo Janot entra Raquel Dodge, nova procuradora-geral da República, que tomou posse na segunda-feira (18), em Brasília. Apesar de, na cerimônia de posse, ter dito que não tolera a corrupção, ela optou por não citar diretamente a operação Lava Jato. O curioso é que Raquel tomou posse ao lado do presidente da República, Michel Temer, alvo de duas denúncias na Lava Jato, do presidente do Senado, Eunício Oliveira, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ambos investigados na operação.
Vale a ressalva de que Rodrigo Janot, seu antecessor, não estava presente na cerimônia. Pior: Raquel é tida como integrante de um grupo adversário de Janot. Entre os procuradores do grupo de trabalho criado por Janot, Raquel manteve apenas dois nomes.
Primeira mulher a ocupar o cargo de Procuradora-Geral da República, Raquel tem uma carreira marcada pela atuação na área de direitos humanos quanto e do combate à corrupção. A 56 anos, ela está há 30 no Ministério Público. Um dos seus trabalhos de maior destaque foi o combate ao trabalho escravo no Brasil. Com a posse de Raquel, são quatro mulheres ocupando importantes posições: Carmen Lúcia (presidente do Supremo Tribunal Federal), Laurita Vaz (Superior Tribunal de Justiça) e Grace Maria Fernandes Mendonça (Advogada-Geral da União).
À frente da Procuradoria-Geral da República, Raquel terá o enorme desafio de liderar as investigações da Lava Jato. Somente no Supremo Tribunal Federal já são seis ações penais e 131 inquéritos, envolvendo 199 pessoas. Também estará nas mãos de Raquel possíveis acordos de delação premiada.
Apesar de Raquel ter trocado praticamente todo o núcleo da Lava Jato, o novo time formado por ela é formada por investigadores experientes, que atuaram no caso do mensalão do PT e também em operações recentes.
O que se espera é que a transição seja feita sem rachas no grupo. É fundamental que as informações sejam transmitidas dentro da normalidade. Agora, caberá aos novos investigadores tomar depoimentos, participar de audiências e coletar provas.
A expectativa é que, mesmo com a mudança de estilo, que o trabalho da Procuradoria-Geral da República continue a pleno vapor. O Brasil precisa que seja assim. Como bem disse o ministro Marco Aurélio, do STF, Raquel é mais reservada, mas isso não altera o rumo das investigações. Já José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, destaca a larga experiência de Raquel na área criminal, sempre postura “firme e altamente corajosa”. Em seu currículo, ela já processou esquadrões da morte e governadores.
Se assim tiver de ser daqui pra frente, que Raquel continue implacável, doa a quem doer. Ninguém está acima da lei e cabe à nova procuradora-geral da República denunciar todos os agentes que tenham cometida qualquer tipo de desvio de conduta.

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