Futebol merece ser melhor cuidado

A eliminação precoce do Palmeiras no Mundial de Clubes da Fifa serve de alerta não só para os torcedores do clube alviverde, mas para todo o futebol sul-americano. O Tigres, do México, venceu com mérito porque jogou melhor.

Se durante muitos anos os clubes da América do Sul se achavam superiores a equipes da África, Ásia, Oceania e América do Norte, a história hoje é bem diferente. Nas últimas oito edições do Mundial de Clubes, clubes do continente não conseguiram chegar à decisão em metade das ocasiões, com eliminações de Atlético-MG, Palmeiras, River Plate (Argentina) e Atlético Nacional (Colômbia).

Esse é mais um claro sinal de que o futebol da América do Sul está perdendo força e espaço, enquanto a geografia mundial da bola passa por transformações. Desde que o Corinthians derrotou o  Chelsea, da Inglaterra, na final da edição de 2012, nenhum outro clube sul-americano foi campeão do mundo.

Nesse contexto, é preciso analisar, é claro, o aspecto econômico. Relatório da Fifa sobre operações de compra e venda de jogadores realizadas em 2020 confirma o Brasil como principal fornecedor de mão de obra no mercado mundial do futebol mesmo em meio à pandemia. No ano passado, foram 2.008 transações envolvendo atletas brasileiros. O número é mais do que o dobro do que o segundo país no ranking, a Argentina, com 899 negociações de seus atletas.

O grande problema é que o jogador brasileiro virou commodity. É como vender minério de ferro para os europeus transformarem em aço. Os clubes europeus já aprenderam que, se você detecta um talento aqui no Brasil e o aperfeiçoa, pode lucrar muito em um curto prazo. E, isto tende a continuar pelos próximos anos, sobretudo quando vivemos momentos de forte valorização do euro e do dólar.

O mercado internacional do futebol, inclusive, tem observado nos últimos anos um movimento de atletas brasileiros que estão saindo do País para defender outras seleções. De olho em uma vaga na Copa do Mundo de 2022, os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, iniciaram um mutirão para naturalizar brasileiros que hoje possuem status de estrelas no país árabe. A China já tinha feito o mesmo em 2019.

Tudo isso acaba se refletindo dentro de campo. Depois do título da seleção brasileira na Copa de 2002, todos os demais Mundiais foram conquistados por equipes da Europa: Itália (2006), Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2014).

Se as estruturas do futebol sul-americano não forem reorganizadas, o fosso entre os dois continentes só vai aumentar ainda mais. É preciso investir na formação de atletas e dirigentes. Apenas com uma gestão profissional de clubes e federações é que conseguiremos voltar a revelar jogadores de talento e mantê-los aqui por mais tempo. Hoje, qualquer garoto não tem mais o sonho de jogar em clubes como Corinthians, Palmeiras, São Paulo ou Flamengo. Das categorias de base, os planos já são ir para a Europa e defender Real Madrid, Barcelona, Milan…

O futebol é um patrimônio do povo brasileiro. Por isso merece ser melhor cuidado. Caso contrário, derrotas como a do Palmeiras para o Tigres do México no último domingo podem se tornar cada vez mais comuns.

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