A Cultura é coisa séria

As idas e vindas da Cultura no governo Bolsonaro retratam o descaso do presidente e dos seus aliados com o setor. Primeiro, o ministério foi extinto em janeiro do ano passado para a criação da Secretaria Especial de Cultura, que foi incorporada ao Ministério da Cidadania. Depois, foi para o Turismo e na sequência voltou para a Cidadania.
O pior erro de Bolsonaro, no entanto, foi ter nomeado em novembro Roberto Alvim como secretário especial da Cultura. Alvim citou trechos do ideólogo nazista Joseph Goebbels ao anunciar o Prêmio Nacional das Artes na última quinta-feira e, diante da repercussão negativa internacional, acabou demitido.
É uma vergonha mundial para o Brasil ter como integrante do governo alguém que usa Goebbels como referência para escrever discursos. Como agravante, Alvim era apontado nos bastidores do Palácio do Planalto como um nome de confiança de Bolsonaro.
Não custa lembrar que Alvim é discípulo do escritor Olavo de Carvalho e em setembro atacou com ofensas a atriz Fernanda Montenegro ao chamá-la de “mentirosa” em uma postagem no Facebook. Mesmo com esse histórico, ele chegou ao cargo pelas mãos de Bolsonaro com total liberdade para compor sua equipe e prestígio.
O dramaturgo foi o terceiro nome no comando da Cultura no governo Bolsonaro. Antes, passaram pelo cargo o economista Ricardo Braga e Henrique Pires. Agora, a bola da vez é a atriz global Regina Duarte.
A tarefa é hercúlea. A Secretaria Especial de Cultura tem convivido com orçamentos reduzidos nos últimos meses. A Agência Nacional do Cinema (Ancine), por exemplo, está operando “em estado crítico”, de acordo com estudo interno obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo. Na Fundação Biblioteca Nacional, há falta de investimentos de atualização e preservação.
O orçamento total da Cultura para 2020 está previsto em R$ 320 milhões. Em 2019, a previsão era de R$ 2 bilhões.
Por isso, não bastará a Regina Duarte apenas força de vontade. Atriz de sucesso, ela ganhou destaque no mundo político na campanha presidencial de 2002, quando apoiou o então candidato José Serra (PSDB) e disse ter medo de uma possível vitória de Lula. Depois, em 2018, ela declarou apoio a Bolsonaro e chegou a dizer que as brincadeiras homofóbicas dele eram apenas “da boca pra fora”.
Regina Duarte já afirmou que não está preparada para a gestão pública, ainda mais para uma pasta tão complicada como a Cultura. Sua indicação é mais uma aposta de risco de Bolsonaro para uma área tão importante para o desenvolvimento do País. Dizer que a atriz é melhor do que seu antecessor pelo fato de pelo menos não citar trechos de ideólogo nazista é muito baixo. Regina Duarte tem mais de 50 anos na televisão brasileira e merece respeito e crédito por parte da população brasileiro. Uma coisa, no entanto, é inegável: o cenário não é dos melhores e as perspectivas também.

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