Um barco à deriva

É difícil explicar e compreender a insistência do presidente Michel Temer (PMDB) em dar posse à deputada federal Cristiane Brasil (PTB) como nova ministra do Trabalho. Filha de Roberto Jefferson, delator do esquema do Mensalão, Cristiane faz parte da cota a que seu partido tem direito dentro do governo por apoiar o presidente em sua agenda reformista. Temer já conseguiu aprovar a reforma trabalhista, mas tem encontrado sérias dificuldades para angariar votos a favor da reforma da Previdência. Por isso, acaba aceitando indicações como a de Cristiane para o seu ministério, apesar das inúmeras críticas de especialistas na área.
O último duro golpe que Temer sofreu foi um vídeo que circulou nesta segunda-feira (29) em redes sociais no qual a sua indicada falou sobre ações que enfrentou na Justiça Trabalhista e que motivaram a suspensão da sua posse como ministra do Trabalho. No vídeo, a parlamentar está dentro de um barco, ao lado de quatro homens sem camisa.
Pegou muito mal a frase em que a deputada afirma no vídeo: “Eu só quero saber o seguinte: o que pode passar na cabeça das pessoas que entram contra a gente em ações trabalhistas?” Para piorar, ela ainda disse: “Todo mundo tem direito de pedir qualquer coisa na Justiça. Todo mundo pode pedir qualquer coisa abstrata. O negócio é o seguinte: quem é que tem direito? Ainda mais na Justiça do Trabalho”. Um dos homens sem camisa ao lado dela completa: “Como empresário aqui, ação trabalhista toda hora a gente tem.”
Cristiane divulgou uma nota dizendo que “a gravação e a divulgação do vídeo foram uma manifestação espontânea de um amigo, utilizada fora do contexto”. Ela diz, também, que respeita o direito de o trabalhador reivindicar o que acha justo.
A deputada já respondeu a duas ações trabalhistas por não assinar a carteira de motoristas particulares. Em uma, foi condenada a pagar indenização. Na outra, fez acordo. Esses dois fatos fizeram com que um grupo de advogados entrasse na Justiça argumentando que a nomeação ofende a moralidade administrativa já que ela violou a legislação trabalhista. Assim, a Justiça Federal em Niterói, no Estado do Rio, decidiu suspender a posse dela.
Desde o começo de janeiro Temer tem recorrido à Justiça para que Cristiane Brasil assuma. Mas acabou derrotado. Uma liminar da presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, suspendeu a posse da deputada e, pela segunda vez, a cerimônia teve de ser cancelada em cima da hora.
No entendimento dos advogados que entraram na Justiça as declarações dela no vídeo reforçam o seu desrespeito à Justiça e ao Direito do Trabalho. O objetivo agora é que a posse de Cristiane Brasil seja suspensa de forma definitiva, e não apenas por meio de liminar.
Mesmo com todo o mal estar e constrangimento provocados pelo vídeo, Temer mantém a disposição de dar a Cristiane o Ministério do Trabalho. Essa, inclusive, não é a primeira vez que o presidente ignora a opinião pública. Com apenas 6% de aprovação e sem pretensões de concorrer à reeleição, Temer parece não estar muito preocupado com o que o povo pensa do seu governo e dos seus ministros.

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