A menina do nariz escorrendo

Todos que olhavam para ela pensavam a mesma coisa. Era algo de se espantar que naquela idade a menina ainda tivesse aquele tamanho e fosse tão magrinha. Todos sabiam de sua condição de extrema pobreza, menos ela. Carol não sabia que comer a faria mais forte e saudável. Usava a vida para brincar, pular amarelinha, correr, se esconder, pular corda e jogar bola. Essas eram as atividades preferidas da menina que não tinha o que comer.
Em dias de frio, usava as mesmas roupas dos dias de calor e nos dias de calor usava a mesma roupa de todos os dias. Por falta de chinelos, aprendeu a gostar mesmo de ter os pés no chão. Faltavam muitas coisas na vida de Carol, mas ela nada exigia de ninguém. Sua única perturbação diária era o nariz que não parava de escorrer nunca.
Era algo impressionantemente impressionante. Foram tantas as tentativas de colocar o catarro para dentro, que Carol em algum momento decidiu não pensar mais nisso. Fazia parte dela e da sua condição de extrema pobreza.
Raramente ela se incomodava e quando isso acontecia era porque os adultos não paravam de chamar sua atenção. – Menina, vai limpar o nariz. – Olha como isso tá sujo, vai direto para o banheiro. – Sai agora da minha frente e vai lavar esse nariz.
Carol não tinha forças e nem tempo para acatar toda vez que alguém se incomodava com o seu catarro. O seu nariz não parava de escorrer nunca e ela não tinha o que comer para ser mais forte e saudável. Faltavam roupas e comida na casa da menina mirradinha. Era algo de se espantar a sua condição de extrema pobreza.

BNegão canta Dorival Caymmi

Desenvolvido inicialmente como trilha-sonora para um espetáculo teatral de uma companhia russa, esse repertório compôs um marco fundamental da música brasileira: o primeiro disco gravado/registrado pelo, então, iniciante e semi-desconhecido Dorival Caymmi.
Força, violência e beleza. O mar, o vento, Iemanjá. Vida e morte. Os jangadeiros. Os pescadores. Um universo singular que nos foi apresentado de forma absolutamente fantástica por essa entidade máxima dos sons produzidos em nosso país.
Impactado de forma decisiva pela audição desta obra (não de Canções Praieiras, de 1954, mas de “Caymmi e Seu Violão”, de 1959), o jovem Bernardo Santos foi mais um dos que tiveram sua vida afetada por estas misteriosas canções.
Nascido e criado e Santa Teresa (no centro boêmio do Rio de Janeiro), ao longo de sua caminhada adotou o codinome “BNegão” e com ele viajou o mundo inteiro defendendo suas músicas e ideias (seja com o Planet Hemp ou com os Seletores de Frequência). Mas tudo isso sem nunca esquecer daquele disco que mexeu tanto com o seu universo sonoro e imagético.
Nos dias 4, 5 e 6 de janeiro de 2019, traz para o palco do teatro do Sesc Ipiranga essa sua aventura. Ele canta Dorival Caymmi. Voz e violão, apenas. Ingressos já a venda online ou na bilheteria das unidades do Sesc. O Sesc Ipiranga fica na rua Bom Pastor, 822.

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