Braille: O passaporte da independência para cegos

Regina Oliveira, 64 anos, perdeu a visão aos 7. Mas nunca deixou de lado seu amor pelos livros e sua vontade de conhecer coisas novas. Realizou seu grande desejo de aprender a ler e a escrever e hoje seu trabalho permite que ela faça isso como rotina.
Atualmente, é coordenadora de revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos e membro do Conselho Mundial e do Conselho Ibero-americano do Braille. Conquistou sua independência e não deixa de fazer nada do que quer. Por vezes, se sente até privilegiada. Regina conta que sempre teve o costume de pousar o queixo na mão, apoiada na mesa. Uma amiga dizia que ela parecia a escultura O Pensador, famosa obra do francês Rodin. “Eu dava risada, conhecia a obra, mas de ouvido. E quando veio a exposição para a Pinacoteca [de São Paulo], fui correndo e tive a oportunidade de tocar a escultura e falei que foi a primeira vez que me senti privilegiada por ser uma pessoa cega, porque as obras do Rodin são mais para serem tocadas do que para serem olhadas, porque quando você toca você sente mais os detalhes.”
Regina nasceu com glaucoma e teve o diagnóstico logo nos primeiros meses de vida. Ela conta que a família correu atrás de todos os tipos de tratamento. A mãe, dona de casa, e o pai, garçom, fizeram o que podiam na época, mas aos 7 anos ela perdeu a visão por completo. Seis meses depois, chegou na fundação. Tudo por causa de seu desejo de aprender a ler e escrever.
“Eu tinha uma vida mais ou menos normal, enxergava bem pouco, acho, porque tenho poucas lembranças dessa época, mas quando eu estava com uns 6 anos eu queria muito aprender a ler e escrever e minha mãe começou a me ensinar as letras e quando eu perdi a visão ela não sabia como uma criança cega poderia aprender. Um dia ela saiu de casa disposta a só voltar quando encontrasse um lugar para eu ser atendida. E chegou à fundação”, recorda. Já são quase 40 anos ali. Regina não só aprendeu o braille, como se tornou telefonista, depois coordenadora do voluntariado e mais tarde entrou para a área do editorial em braille.
Trabalha para que outras pessoas possam ter essa mesma liberdade e chances de escolha. E para ela, está claro. O primeiro passo é o braille. Hoje, com tantas novas tecnologias, Regina vê esse sistema perdendo espaço e alerta para os problemas que isso pode causar. “As pessoas acham que um computador substitui tudo, e não. Você tem que ter outros recursos, mas todas as crianças são alfabetizadas com lápis e papel, continuam tendo seus livros impressos e por que a criança cega vai ficar sem essa oportunidade? Imagina você aprender matemática, química e física somente ouvindo? Tem alunos que chegam aqui na fundação e vão fazer o Enem e nunca viram um gráfico em relevo. E tudo isso é possível com o braille”, argumenta. Não ensinar o braille para cegos é deixar essas pessoas analfabetas e sem acesso a muitos serviços, hoje disponíveis em braille. Atualmente é possível administrar remédios com segurança, pedir um extrato bancário em braille e ter privacidade para consultá-lo. A tecnologia facilita e ajuda em muitas coisas, de fato, mas para Regina nunca pode ser um substituto.
A Fundação Dorina Nowill fica na R. Dr. Diogo de Faria, 558.

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