Artista do Jabaquara pinta grafite gigante em CDHU

Um grafite gigante que retrata gerações de mulheres matriarcas foi inaugurado, nesta terça-feira (12), nos paredões de um conjunto habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo. Intitulada “Enraizadas”, a obra é assinada pela artista visual e grafiteira Mimura Rodriguez.
Mestiça – filha de mãe japonesa e pai uruguaio -, Mimura é periférica, nascida no bairro do Jabaquara. Aos 34 anos, mora na cidade de Guarulhos e além de ter a força das mulheres de sua família como inspiração, ela também enfatiza que o ambiente em que cresceu é sua raiz e seu norte em tudo o que faz na arte.
“Enraizadas apresenta a árvore em suas raízes, seu fruto e sua flor. Com uma poética que sugere não somente a beleza, mas também a dureza e secura de muitas partes desse processo. O ciclo. O eterno retorno. Cada criança que nasce é um ancestral que retorna. Estou aqui porque já estive em todas as partes”, detalha Mimura, a artista da obra.
Uma avó com as marcas dos anos vividos em seu rosto. Uma mãe que amamenta o filho como pode e outra que carrega o bebê a tiracolo em meio ao dia de labuta. No fundo, galhos e raízes de árvores que contam uma história sobre o ciclo perene de famílias lideradas por mulheres, nas quais filhas encaram a maturidade de virar mães, que depois tornam-se avós.
Esta é a imagem que passou a estampar os três paredões, anteriormente monocromáticos e de pintura mal conservada, do Bloco 04-B do Condomínio Vitória, na Rua Manuel Rodrigues Santiago, 88D. O desenho em grafite ocupa uma área de 236,25m².
O grafite começou a ser pintado no dia 4 e levou cerca de uma semana para ser finalizado. O desenho foi selecionado pelo projeto Museu de Arte de Rua (MAR), da Secretaria Municipal de Cultura, da Prefeitura de São Paulo. Com nota 106,3, a obra “Enraizadas” foi classificada em 7° lugar, na categoria “Altura”, com o tema “Maturidade”.
Mimura explica que o local escolhido para a pintura também se conecta diretamente com a proposta poética da obra, já que os paredões do conjunto habitacional abrigam histórias duras de diversas mulheres periféricas que ali vivem e encaram uma rotina como matriarcas.
Fruto de um relato pessoal, o desenho se conecta ainda com a história de sua criadora. Atuante no mundo das artes desde 2012, Mimura se tornou mãe em 2020, aos 31 anos e em meio à pandemia. Ao viver o maternar de sua filha e se conectar com a avó, Mimura passou a ter as “mulheres” como o foco de suas obras – sua avó está morando com sua mãe.
“Tenho aprendido muito sobre a potência das mulheres e como sustentamos nossa comunidade em diversos aspectos, mesmo que estes não sejam tão valorizados quanto deveriam. Tento trazer a força da ancestralidade, essa que não é apenas sobre parentes que viveram há muito tempo, mas também sobre os que estão aqui conosco”, comenta a grafiteira, explicando que, em sua arte, é a esses elementos que busca dar visão e voz.
Temas relacionados à ancestralidade, vivenciada através da maternidade e de sua espiritualidade, compõem a poética de Mimura, que, além da capital paulista, também realizou pinturas em muros no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Jacareí, Guarulhos e Cubatão, e tem trabalhos de xilogravura e tapeçaria expostos em São Paulo e em Berlim, na Alemanha.
Entre suas obras, destacam-se ilustrações para a coleção de sandálias Ipanema (2021); grafite da obra “Comunidade” em um mural de 450m² no CEU Butantã (2022); pinturas no Minhocão e murais em diversas regiões de São Paulo, como na Baixada do Glicério, na Vila Ré, Jabaquara e na Avenida Cruzeiro do Sul.
“Enraizadas” faz parte do Museu de Arte de Rua (MAR), da Prefeitura de São Paulo. O programa visa aprimorar a vocação da cidade para a produção de arte urbana e ampliar seu impacto positivo na cultura e identidade do município.

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