Masp abre mostra crítica sobre Gauguin

O Museu de Arte de São Paulo (Masp) inaugurou sua nova exposição: Gauguin, o Outro e Eu. Ela aborda um autorretrato em que o artista se associa com a figura religiosa de Jesus Cristo.
A nova mostra apresenta 40 obras em pinturas, xilogravuras, litografias e monotipias realizadas por Paul Gauguin (1848-1903). E, diferentemente de outras exposições sobre artistas europeus em que as obras eram pré-selecionadas pelo museu de origem, agora o Masp conseguiu ser responsável pela curadoria e pode acrescentar discussões sobre a obra do artista sob uma perspectiva brasileira. A exposição fica em cartaz até 6 de agosto, com curadoria de Adriano Pedrosa, Fernando Oliva e Laura Cosendey.
“É importante lembrar que essa exposição foi criada por um museu brasileiro, por curadores e pesquisadores brasileiros. Isso não é muito comum no sistema de arte brasileiro porque, em geral, as exposições que vêm a São Paulo, ao Rio de Janeiro e outras capitais, são de pacotes que viajam pela América Latina e também passam por algumas cidades brasileiras”, explicou Fernando Oliva, um dos curadores da exposição.
“A particularidade dessa mostra é que ela foi feita pelo Masp para o público brasileiro. A questão da alteridade, do outro, também foi pensada para o sistema de arte e cultura, e como o brasileiro tem que lidar com esse problema. Então, não é apenas uma exposição do Guaguin acontecendo no Brasil, mas é uma exposição que levanta temas contemporâneos e atuais”, acrescentou ele, em entrevista à Agência Brasil e TV Brasil.
A mostra está inserida no eixo Histórias Indígenas, tema que o museu discute este ano. Autorretrato (Perto do Gólgota), obra de Gauguin que abre a mostra, é uma joia da coleção do Masp e peça-chave dessa exposição.
“Esse autorretrato traz uma questão que Gauguin já tinha trabalhado em outros autorretratos. É a identificação com a figura de Cristo. No caso, ele traz isso não só no modo como ele se representa, com os cabelos longos e vestindo uma túnica bem simples. Mas também na própria inscrição na pintura, no canto esquerdo, que fala Perto do Gólgota. Então, ele está aludindo à figura de Cristo no momento mais dramático da Paixão, fazendo alusão ao Gólgota, o lugar onde Cristo foi crucificado. Isso traz uma carga dramática para essa pintura que faz com que ela seja bastante única”, disse Laura.
Além das discussões sobre referência e apropriação cultural, o museu pretende apresentar a obra de Gauguin problematizando a maneira como ele, um europeu, encarava o ‘outro’ e vivia no mundo do outro. Ele, filho de um parisiense com uma peruana, viveu entre Paris, o Peru e o Taiti (Polinésia Francesa), onde produziu suas obras mais conhecidas e, atualmente, mais discutidas. “Ele considerava isso [suas origens] como uma característica que o fazia diferente de um artista parisiense inserido no circuito”, acrescentou Laura. “De alguma forma, ele alegava essa origem, essa identidade que ele nomeava como selvagem”, afirmou ela.
Em algumas dessas pinturas realizadas no Taiti, apresentadas ao final da exposição, ele mostra suas amantes de 13 ou 14 anos, de forma bastante sexualizada. “A representação do outro no Gauguin obviamente era a representação que o homem do seu tempo faria. Do homem branco, europeu, heterossexual, da burguesia parisiense, que vivia em Paris. Então, o outro para ele vai ser o exótico, o primitivo e, por vezes, o ingênuo. Ele reforça esse tipo de representação que é exótica, folclorizante, e que, de certa forma, reduz, sendo por vezes preconceituoso e racista”, acentuou Fernando Oliva.
Com essa exposição, o Masp amplia a visão sobre um dos artistas mais conhecidos na história da arte.“

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