A Cia. Teatro do Incêndio iniciou, em dezembro, o projeto Cidade Extensão da Gente, idealizado e coordenado pelo coletivo teatral cuja sede está localizada na esquina das ruas Treze de Maio e Santo Antônio, imóvel histórico, de 1905, na entrada do tradicional bairro Bixiga, região da Bela Vista.
Um belo e singelo mural de arte urbana – o ‘Saracura’ , criado pelo artista plástico e muralista Diego Mouro, foi inaugurado recentemente, sendo a primeira ação entre várias do projeto, que busca transformar o espaço urbano em lugar de vida e convivência. O tema do painel – feito em parceria com a Secretaria Municipal do Turismo e curadoria e produção de Instagrafite – alinha os afetos cotidianos da comunidade com a história do bairro, ocupando o paredão superior do prédio anexo à sede do Teatro do Incêndio, como uma grande proa vista em perspectiva logo na entrada do bairro.
No painel, Diego Mouro retrata uma mulher negra estendendo roupa no varal que, segundo o próprio, “é um retrato do cotidiano, uma atividade que, de alguma forma, reúne as pessoas pelas peças de roupas em um mesmo varal, uma imagem comum a muitos nessa comunidade”. O artista se inspirou no fato do Bixiga ter sido o primeiro quilombo urbano, chamado Saracura, para onde alguns escravizados fugiam, passavam-se por trabalhadores junto aos alforriados e eram acolhidos por alguém que lhes oferecia um quarto. Isto fortaleceu a criação da comunidade: um bairro com tantas pensões, local de chegada de muitas pessoas.
O projeto Cidade Extensão da Gente entende o direito à cidade como um direito a si mesmo e traz uma proposta baseada em desejos e necessidades de pessoas que usam, moram, trabalham e visitam a localidade, conforme pesquisa realizada pelo coletivo. A iniciativa visa uma área urbana que contribua para o bem estar e melhoria da qualidade de vida da comunidade. Segundo Gabriela Morato, atriz e produtora do Teatro do Incêndio, também idealizadora do projeto, “o Bixiga carrega em suas paredes históricas marcas de diversidade, contudo, ao caminhar pelas ruas, identificamos estruturas esquecidas, excluídas, degradadas e muitas vezes invisíveis ao olhar do transeunte e do morador, que não mais enxerga a cidade como espaço de manifestação e manutenção da vida”.
A partir da fala “a estética tem função social”, de Mário de Andrade, figura-símbolo eleita pelo coletivo, a ideia de transformação do espaço e seu entorno começa a tomar corpo. “Acreditamos que a cidade pode ser ponto de convergência, solução para problemas de crescimento desordenado e não planejando, além de uma possibilidade iminente de transformação social e cultural”, argumenta Marcelo Marcus Fonseca, diretor e fundador do Teatro do Incêndio. O imóvel é tombado como Patrimônio Cultural e Bem Imaterial pelo CONPRESP – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.
O projeto engloba outras ações. Além do painel ‘Saracura’ que teve investimento de R$ 70.000,00, uma obra de arte será feita nas paredes externas do Teatro do Incêndio que exalte a cultura do Bixiga, dialogando com a história do bairro retratada no Painel Saracura. A arte foi orçada em R$ 2.000,00.
A criação de ecoponto para descarte correto do lixo reciclável e orgânico, em parceria com um artista gráfico e com artistas do teatro e da música para intervenções de conscientização da comunidade também compõe a lista de benfeitorias. Além da manutenção das calçadas por meio de requerimentos e ações junto à prefeitura da capital, instalação de um parklet, espaço público mantido pela iniciativa privada, na Rua Treze de Maio, para ações culturais e sociais para a comunidade local. Ação está em fase de aprovação na subprefeitura e foi orçada em R$ 15.000,00.
O Teatro do Incêndio fica na rua Treze de Maio, 48 – Bela Vista. Informações: 2609 3730 / 2609 8561 ou através do email: http://www.teatrodoincendio.com/ / Nas redes: @teatrodoincendio.