Vida em chamas

Ela ficou a observar o fogo por horas e horas. Gostava das chamas altas e de como elas aqueciam seu corpo no frio. O vermelho e o amarelo lhe faziam companhia em noites assim, quando a cabeça tá longe e a única coisa que se precisa é de tranquilidade.
Achava inútil tentar fazer isso com alguém por perto, afinal precisava da solidão para escutar o silêncio do seu coração e do mundo. Já não sabia mais como suportar o peso de tanta tantas vozes em sua cabeça, sendo que nenhuma era a dela.
Misturava um pouco de vinho com água para amenizar a reflexão quando uma chama mais forte estalou e ela levou um susto. Percebeu que estava longe de novo e teve que voltar. Notou que as chamas ainda estavam fortes, mas não tão brilhantes como antes. Talvez o vento tivesse diminuído ou então a madeira fosse pouca. Foi quando resolveu tomar uma atitude antes que seu corpo esfriasse e só sobrassem as brasas. Olhou ao redor e não viu mais nenhum pedaço de madeira. Que estranho, tinha deixado todos bem ao alcance de sua mão antes de se sentar pois sabia que iria precisar deles ao longo da noite. Será que tinha se enganado? Não se lembrava de tê-los usados e teve que fazer um terrível esforço para levantar o corpo do chão e procurar outros tantos pedaços de madeira seca.
Andou calmamente no escuro, não enxergava muito bem, mas conhecia o caminho, já estivera ali umas duas ou três vezes. Inclinou-se várias vezes para baixo e recolheu somente o que cabia em seus braços longos e finos.
Na volta, seus olhos já estavam mais acostumados com a escuridão. Chegou um pouco mais perto da fogueira e viu com nitidez que o fogo tinha se apagado. Deixou a madeira de lado e voltou a observar em silêncio como aquele incêndio a queimava por dentro.