Varredura no esporte nacional

Começou segunda-feira (6) o julgamento do ex-presidente da CBF José Maria Marin em Nova York, nos Estados Unidos. O ex-dirigente foi preso em 2015 acusado de receber propinas em negociações de direitos de transmissão para TV em edições da Copa América e suborno em contratos da Copa do Brasil.
O brasileiro diz ser inocente, mas, entre as acusações contra ele está uma viagem feita em 2014 a Miami para acertar o recebimento de propinas. Junto com o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e o atual chefe da entidade, Marco Polo Del Nero, eles teriam divididos R$ 2 milhões por ano de suborno da empresa Traffic.
Marin, inclusive, só foi preso e está sendo julgado agora porque teria feito operações financeiras nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, o dirigente sequer foi indiciado. O Departamento de Justiça dos EUA alega que Marin e outros 41 dirigentes ligados à Fifa construíram um grande esquema de corrupção que teria movimentado US$ 200 milhões (R$ 662,7 milhões) em vários países.
Os advogados de Marin esperam que o julgamento dure dois meses. E, pelo histórico do Tribunal do Brooklyn, o brasileiro dificilmente deve escapar de algum tipo de punição. Um ex-secretário-geral da Federação de Futebol Guatemala, por exemplo, já foi condenado a oito meses de prisão e a pagar multa de US$ 415 mil (R$ 1,3 milhão). Já um ex-secretário-geral da Associação das Ilhas Cayman pegou 15 meses de prisão e ainda terá de devolver US$ 3 milhões (R$ 9,9 milhões) à federação.
Enquanto aguarda a decisão final sobre o seu caso, Marin cumpre desde 2015 prisão domiciliar em seu apartamento localizado na 5.ª Avenida, no prédio Trump Tower, próximo ao Central Park, em Nova York. A bem da verdade, diga-se que o ex-dirigente não leva uma vida tão ruim. Ele conseguiu autorização da Justiça para sair até sete vezes por semana do seu apartamento.
É muito ruim para a imagem do Brasil ter um dirigente esportivo julgado pela Justiça dos Estados Unidos. A reputação do País é péssima. Marin presidiu a CBF por três anos, entre março 2012 e abril de 2015, mas a denúncia feita pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos afirma que o esquema de corrupção envolvendo a entidade teve mais de duas décadas de duração.
Pior: não é apenas o futebol, paixão maior do povo brasileiro, que está envolvido neste mar de lama. Não custa lembrar que o ex-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) Carlos Arthur Nuzman chegou a ser preso recentemente acusado de participar de um esquema internacional que comprou os votos na eleição que garantiu ao Rio de Janeiro o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016.
O esporte brasileiro precisa ser passado a limpo. É o momento de o Ministério do Esporte, por exemplo, fazer uma auditoria em todas as federações e confederações. Todo e qualquer desvio deve ser severamente punido, sobretudo porque a maior parte dessas entidades só existe porque recebe verba pública das loterias federais. O torcedor brasileiro, definitivamente, não merece os dirigentes que estão no comando do esporte nacional.

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