O incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio, era uma tragédia anunciada. Faz tempo que a preservação da história do País vem sendo deixada em segundo plano. Governos parecem ter dinheiro de sobra para bancar obras de estádios para a Copa do Mundo, ginásios para os Jogos Olímpicos e financiar empresas como JBS e empreiteiras envolvidas na Lava Jato, mas quando o assunto é museu a situação é de penúria.
Não precisa ir muito longe. Temos, aqui na região, o Museu do Ipiranga, que está fechado há 5 anos por causa de problemas de estrutura. Os forros de teto centenários corriam risco de desabar. Agora, a previsão é de que o museu só será reaberto ao público em 2022, durante as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil.
Depois do desastre de domingo no Museu Nacional, o presidente Michel Temer (MDB) anunciou a assinatura de uma Medida Provisória para criar uma lei sobre os fundos patrimoniais, com recursos a serem usados já na recuperação do local. O objetivo principal é apoiar projetos de segurança e prevenção a incêndios e a modernização das instalações das instituições que gerenciam o patrimônio histórico e cultural do País, com o valor de R$ 25 milhões.
O que se vê agora é um jogo de empurra-empurra entre autoridades. A bem da verdade, no entanto, é que a responsabilidade sobre a administração do Museu Nacional é da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que tem autonomia para gerenciar os recursos repassados pelo governo federal.
Do jeito que está não pode continuar. É preciso mudar o modelo de gestão dos museus federais como um todo. Quantas outras tragédias precisarão acontecer para que as autoridades tomem atitudes? Especialistas apontam que gestão compartilhada é um dos caminhos.
Agora, o momento é de lamber as feridas e recolher os cacos. Peritos da Polícia Federal, por exemplo, já estiveram no interior do Museu Nacional para avaliar os escombros e tentar determinar onde o fogo começou. Até agora, algumas poucas peças foram resgatadas por funcionários e bombeiros, como um quadro de Marechal Rondon, que estava no hall do museu, meteoritos, dois vasos de cerâmica e fragmentos de crânios humanos.
Só se sabe ao certo que alguns acervos do museu que ficavam em prédios anexos foram preservados. A estimativa é de que um total de 1,6 milhão de itens estão a salvo, sendo 500 mil volumes da biblioteca (com 1.560 obras consideradas raras), a coleção de botânica (com 550 mil peças), o acervo de vertebrados (de 460 mil itens) e pelo menos 150 mil invertebrados.
A destruição do Museu Nacional, tomado pelo fogo, representa uma perda imensurável para a identidade do povo brasileiro. Aquele que não conhece a sua história está condenado a repeti-la e isso pode ser terrível (vide os anos da Ditadura Militar). A tristeza e a revolta são enormes nesse momento, mas como já dizia o compositor Paulo Vanzolini, “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.
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