A Barroca Zona Sul mostrou a força do samba da região e, com um desfile quase perfeito, se manteve na elite do Carnaval de São Paulo. A verde e rosa da Vila do Encontro abriu o desfile do Grupo Especial, na sexta-feira (21), e levantou o público ao apresentar o tema “Benguela… a Barroca Clama a Ti, Tereza”.
Os jurados entenderam a história da líder quilombola e deram nota máxima ao samba-enredo. A Faculdade do Samba levou 10 também nos quesitos comissão de frente, harmonia e mestre-sala e porta-bandeira. Passou raspando em fantasia e bateria, com 29,9 em ambos. “Foi um desfile que lembrou os velhos e saudosos tempos”, avaliou um integrante da bateria.
A agremiação conquistou o 10º lugar, com 269 pontos, ficando à frente da Gaviões da Fiel, que todos os anos leva para o sambódromo do Anhembi milhares de torcedores. A X-9 Paulistana e a Pérola Negra foram rebaixadas para o Grupo de Acesso. “Não foi exatamente a posição que queríamos, mas nos mantivemos na elite”, observou o ritmista.
O desfile do Barroca Zona Sul se iniciou com o nascimento de Tereza, representada pela comissão de frente da escola, coreografada por Alê Batista e Thais Seixas.
Na sequência, a primeira alegoria do Barroca representou Benguela, local de origem de Tereza. O elemento alegórico levou para a avenida a representação de toda a tristeza e sofrimento do local no início do Século XVIII, devido às invasões e captura de negros e negras para mão de obra escrava.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, composto por Igor Sena e Lenita Magrini, que desfilam pela primeira vez juntos vieram representando Oxóssi e a Rainha Tereza.
A Bateria dos mestres Acerola de Angola e Fernando Negão, “Tudo Nosso”, veio com uma fantasia representando o som, a fé e a coragem negra na floresta.
Na sequência a escola verde e rosa trouxe para a avenida a chegada de Tereza ao seu destino: o Mato Grosso. As alas e alegorias revelavam o sentimento deplorável da forma em que Tereza chegava ao local – como escrava e trazida pelos colonizadores em expedições em busca de mineração de ouro.
O desenrolar do desfile a agremiação contou a história do quilombo Quariterê que não serviu de abrigo apenas para negros, e sim para índios, caboclos e mestiços, que sofriam com a ambição do invasor. A escola mostrou em elementos visuais, o dia a dia do quilombo, com carroças de madeira, plantações de cana de açúcar e a utilização da palha.
Finalizando o desfile que marcou o retorno do Barroca ao Grupo Especial após 15 anos, o quinto e último setor da escola trouxe a morte de Tereza e a representação do legado que foi deixado. As alas demonstraram a força feminina e o poder da mulher negra em resistir, exaltando a negritude de uma mulher como o maior patrimônio de uma luta e revelando a importância da batalha contra a opressão, a intolerância e o preconceito.
A Barroca passou quase duas décadas enfrentando dificuldades, em razão de gestões incompetentes, mas conseguiu equacionar as dívidas e, em 2019, com o enredo “Akê Arô”, deu um show de samba e chegou o vice-campeonato do Grupo de Acesso. A conquista deu novo ânimo à diretoria da escola, trouxe esperança de dias melhores. Apostou todas as fichas em “Benguela… a Barroca Clama a Ti, Tereza”, e deu os primeiros passos para reconquistar as glórias da época de Pé Rachado.