A intervenção do Governo Federal no Rio de Janeiro, com as Forças Armadas assumindo a responsabilidade do comando das Polícias Civil e Militar e do sistema penitenciário do Estado, pode ter desdobramentos seríssimos para o restante do País. É preciso destacar sobretudo que o decreto que coloca as Forças Armadas no centro da segurança do Rio é uma tentativa do presidente Michel Temer (MDB) para ofuscar a crise política e dar uma nova marca a seu governo.
A sete meses e meio das eleições, o presidente abandona a bandeira reformista e busca inserir a pauta do combate à violência e ao crime organizado ao seu governo. Não custa lembrar que o decreto da intervenção, porém, é considerado uma aposta arriscada. Não dá para errar. Não há outra opção às Forças Armadas que não seja a vitória contra os criminosos.Na última terça-feira (20), no entanto, um militar do Exército morreu após reagir a uma tentativa de assalto na antiga Estrada Rio-São Paulo, no acesso para a Avenida Brasil, na Zona Oeste do Rio.
O que não faltam são críticos à intervenção.O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, no Paraná, por exemplo, criticou o “mandado coletivo de busca e apreensão” para atuar durante a intervenção na área de Segurança Pública do Rio. Pelo Twitter, ele afirmou, na terça-feira (20), que, “se cabem buscas e apreensões gerais nas favelas do Rio, cabem também nos gabinetes do Congresso”. Dallagnol foi mais longe ao declarar que “as evidências existentes colocam suspeitas muito maiores sobre o Congresso, proporcionalmente, do que sobre moradores das favelas”.
Apesar de estar com o capital político totalmente destruído e sem prestígio com a população, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), disse uma verdade em meio ao caos em que o Estado que ele administra se encontra. Pezão afirmou que o combate à violência só será eficaz se houver crescimento econômico e geração de emprego. A maior arma contra o crime organizado e o tráfico, disse o governador, é a carteira assinada de trabalho.
O Brasil enfrenta grave crise econômica nos últimos anos. Milhões de pessoas perderam seus empregos e uma imensa massa de jovens está desiludida com o futuro, sem esperanças. É evidente que a deterioração de condições sócio-econômicas (falta de educação, desemprego, etc.) não gera sozinha a criminalidade. Mas está muito claro que, em locais onde há presença do crime, os empresários ficam com medo de empreender. A falta de empreendimentos, consequentemente, leva à falta de emprego. É um ciclo vicioso que o está acontecendo no Rio há anos.
Mais pobreza gera mais crime? Ou mais crime gera mais pobreza? O Rio está nesta encruzilhada. Não custa lembrar que a imensa maioria das pessoas pobres no Brasil é honesta e, infelizmente, há uma grande quantidade de ricos em Brasília que cometem crimes. Por isso, o combate à violência começa necessariamente com o fim da corrupção. Só assim o Rio terá alguma chance de vencer essa guerra contra o crime.
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