O presidente Jair Bolsonaro e o seu filho Flávio devem explicações ao povo brasileiro sobre as dezenas de dúvidas que rondam o senador eleito. De nada adianta concederem entrevistas rasas e pouco convincentes. Pior ainda é a situação de Flávio, que faltou a um depoimento depois de ser convocado pelo Ministério Público do Rio.
Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre movimentações atípicas do ex-assessor do senador eleito, Fabrício Queiroz, e de outros assessores da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) serão investigados pela Receita Federal. Flávio recebeu em sua conta depósitos fracionados no valor de R$ 2 mil cada no total de R$ 96 mil, além do pagamento de título da Caixa de R$ 1 milhão. Os dois casos estariam relacionados à compra de imóveis.
Já Queiroz teve identificadas movimentações suspeitas no total de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. O mais intrigante é ele recebeu pagamento em sua conta de outros funcionários do gabinete de Flávio.
Em entrevista à agência de notícias Bloomberg, em Davos, na Suíça, o presidente afirmou que se o seu filho mais velho errou e se isso for provado, ele terá de pagar pelos seus atos. Bolsonaro, no entanto, não se alongou no tema. Depois, ao sair do hotel, foi perguntado por jornalistas brasileiros sobre suas declarações na entrevista, mas preferiu desconversar e disse apenas “Bom dia, Brasil”.
O presidente parece fugir do assunto Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz como o diabo foge da cruz. Ele e três ministros, por exemplo, faltaram, sem aviso prévio, a uma entrevista coletiva à imprensa internacional organizada em Davos na quarta-feira (23). A atitude gerou constrangimento na organização do Fórum Econômico Mundial e manchou a imagem do País no cenário internacional.
Além de Bolsonaro, três ministros deveriam participar da entrevista: Paulo Guedes (Economia), Sérgio Moro (Justiça) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores). A justificativa apresentada pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, foi de que Bolsonaro precisava descansar.
Nos bastidores, no entanto, auxiliares próximos do presidente alegam que o cancelamento ocorreu pelo “comportamento antiprofissional da imprensa”. Bolsonaro tem se irritado com a insistência da imprensa brasileira em abordá-lo durante deslocamentos pelo fórum.
Capitão reformado do Exército, Bolsonaro foi eleito democraticamente no ano passado com mais de 57 milhões de votos. Parece, no entanto, ainda não ter compreendido que a imprensa é um dos pilares da democracia. Durante os primeiros dias de seu governo, por exemplo, não nomeou sequer um porta-voz por entender que não era necessário dialogar com os jornalistas. Bastava publicar um comentário de 140 caracteres no Twitter.
Depois de muita bateção de cabeça, inclusive com desmentido sobre o aumento de impostos, resolveu nomear um general como porta-voz do governo na semana passada. O problema não estava somente em escolher um porta-voz, mas sim em entender que é papel da imprensa abordá-lo sobre temas espinhosos. Afinal, quem não deve não teme.
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