No mesmo dia em que o mundo viu o Reino Unido iniciar a vacinação de sua população contra a covid-19, no Brasil a terça-feira (8) foi marcada por mais um lamentável capítulo da disputa entre governantes pelo imunizante do novo coronavírus. Pouco pôde se extrair de atitudes concretas da reunião entre o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e governadores, para discutir sobre o processo de aquisição e distribuição de vacinas da covid-19.
Apesar de o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ter anunciado que a vacinação começará no dia 25 de janeiro no Estado, a data ainda não está 100% garantida porque depende do aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), autarquia de regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde. Na reunião de terça-feira, inclusive, o clima ficou tenso depois que Pazuello disse a Doria que a vacina que está sendo produzida no Estado não é de São Paulo, mas sim do Instituto Butantan.
Sem a garantia de um plano nacional de vacinação para toda a população, o Brasil corre o risco de ver nos próximos dias uma corrida de governadores em busca de imunizantes para seus Estados. O governador do Ceará, por exemplo, já afirmou que, além de buscar parceria com o Governo Federal, está tratando da aquisição também com o Governo de São Paulo, através do Instituto Butantan, para tentar antecipar esse processo de vacinação no seu Estado.
Isso é muito ruim para todo o País. Existe a possibilidade de milhares de pessoas se deslocarem de suas cidades para os Estados que tiverem vacina, aumentando ainda mais as chances de contágio da doença.
No meio dessa guerra política, a pandemia continua avançando no Brasil. A média móvel de mortes cresceu e atingiu o maior patamar dos últimos dois meses. O País já passa dos 178 mil mortos pelo novo coronavírus, com mais de 6,6 milhões de infectados. Dezessete estados e o Distrito Federal apresentaram alta na média móvel de mortes, entre eles São Paulo.
O que a população espera dos governantes, independentemente de partido, é que a vacina chegue à população o mais rápido possível, principalmente aos grupos mais vulneráveis, como idosos, profissionais da saúde e índios. Para isso, pode ser que o caso vá para o STF (Supremo Tribunal Federal) ou que a imunização seja feita sem a liberação da Anvisa. Isso porque existe uma lei aprovada durante a pandemia que permite a importação de vacina contra a covid-19 sem registro no Brasil, mas com aval nos EUA, Europa, Japão ou China. Assim o uso do imunizante no Brasil poderia ser feito com aval de uma agência do exterior.
Se, de fato, chegarmos a esse ponto, será mais uma derrota não só de Bolsonaro, mas de todos os brasileiros. Vacina não tem partido, é questão de saúde pública e de salvar vidas. A exemplo do que já ocorre desde terça-feira no Reino Unido.