Pensando na distância entre as coisas, descobri um poema da mineira Adélia Prado, que gostaria de compartilhar com vocês no final deste texto. Acredito que a distância pode ser medida de várias formas e cabe a nós utilizar a unidade mais pertinente para o momento.
Ela pode ser medida pelas horas, dias, meses, centímetros, quilômetros ou pelas fases da lua. Usamos os números para tentar calcular a distância na ânsia de que isso nos aproxime do quanto falta.
A distância entre mim e o meu sobrinho, por exemplo, pode ser medida por anos ou por quarteirões. São alternativas que uso para estar o mais perto possível quando sinto que o intervalo entre nós pode ser maior do que gostaria. Fazemos isso o tempo todo e com tudo. Com os objetos, com os seres humanos, com os sentimentos, com os caminhos do dia a dia.
Se traçarmos mapas mentais de todos esses deslocamentos, vamos perceber que as unidades de medida usadas por cada um de nós nunca será igual, mesmo quando são usadas para as mesmas coisas. A distância da minha casa para o meu trabalho é de 3,7 km, mas para o meu companheiro de profissão é de 50 minutos, já para o meu aluno é de quatro baldeações e mais 350 passos.
Para uma outra amiga, faltam apenas duas menstruações para o final do ano, enquanto que para o seu marido, faltam apenas dois salários. São caminhos muito peculiares que imaginamos e construímos todos os dias para nos relacionar com o que não está ao nosso alcance. Possibilidades poéticas, pois não importa onde se esteja, sempre se quer ir para algum lugar. Termino esta reflexão com o poema “Legenda com a palavra mapa”, da escritora Adélia Prado. Tebas, Madian, Monte Hor, esfingéticos nomes. Iduméia, Efraim, Gilead, histórias que dispensam meu concurso. Os mapas me descansam, mais em seus desertos que em seus mares, onde não mergulho porque mesmo nos mapas são profundos, voraginosos, indomesticáveis. Como pode o homem conceber o mapa? Aqui rios, aqui montanhas, cordilheiras, golfos, aqui florestas, tão assustadoras quanto os mares. As legendas dos mapas são tão belas que dispensam as viagens. Você está louca, dizem-me, um mapa é um mapa. Não estou, respondo. O mapa é a certeza de que existe O LUGAR, o mapa guarda sangue e tesouros. Deus nos fala no mapa com sua voz geógrafa.
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