Uma vez por dia se dedicava a observar o crescimento das plantas que tinha em casa. Cresciam todas lentamente. Queria arriscar até que nada mudava, mas não era verdade. Talvez fossem as suas pupilas extremamente cansadas que não a permitiam ver os milímetros de cada dia.
Identificava que algo havia acontecido quando os caules se inclinavam com o peso das novas folhas ou quando um galho brotava da noite para o dia. Quando não suportava mais olhar para as mesmices diárias, pegava sua tesoura de cozinha, a mesma que ela usava para abrir a caixa de leite ou cortar o saco de açúcar, conversava com as plantas, pedia desculpas por estar tirando-lhes a vida assim de forma tão abrupta e dava fim a tudo que havia crescido demais.
Não podia ter vasos maiores, os que tinha já ocupavam espaço demais. Procurava aproveitar a companhia que tinha ao estar com aqueles seres tão magníficos, que não falavam com a mesma frequência que ela desejava, mas que demostravam doçura toda vez que uma flor brotava.
Não cansava de alisar e sentir a textura de cada folha e também não tinha dó quando percebia que o sufocamento dos vasos eram os responsáveis pela falta de nutrientes necessários para uma vida melhor. O diagnóstico era de que água não podia faltar. A secura era fatal. Não sobrevivem, a sede é urgente. Por isso não se permitia falhar nesta tarefa. Era só esquecer de aguar por alguns dias e elas plantas caminhavam para a morte definitiva. Preferia apreciar a decomposição natural das folhas caídas que se juntavam a terra para dar continuidade ao ciclo. Não estava sozinha.
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