É triste, porém, infelizmente é preciso admitir que a democracia brasileira está fragilizada. Fatos recentes comprovam que, em pleno século 21, o Brasil retrocedeu. E isso acontece, menos de quatro décadas depois da redemocratização do País, que pôs fim à ditadura militar.
O sistema político deve ser cuidado pelos eleitores, mas as recentes crises enfrentadas pelo País já começam a assustar quem preza e defende a democracia brasileira. Democracia se constrói identificando os problemas e, por mecanismos institucionais, melhorando-a. A solução não está na canetada ou na tomada de poder.
A entrevista do general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, ao jornal O Estado de S.Paulo, é estarrecedora. Ao afirmar que a legitimidade do próximo governo, eleito pelo voto popular, poderia ser questionada, ele estava, na verdade, fazendo veladas ameaças. A democracia é o poder que emana do povo e, seja quem for o eleito nas eleições do dia 7 de outubro, as Forças Armadas precisam respeitar a vontade popular.
Na mesma linha de questionamentos à legitimidade das eleições, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), candidato à Presidência da República, gravou vídeo no hospital, onde está internado se recuperando de uma facada sofrida durante ato de campanha, no qual levanta a possibilidade de fraude nas urnas eletrônicas. No vídeo, o candidato pede o voto impresso.
O pior é Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de voto, manter-se firme neste discurso leviano, inclusive com representação protocolada do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na qual reitera que há possibilidade de fraude à urna eletrônica e ainda afirma ter “diversos motivos” para acreditar na disposição do PT em alterar o resultado do pleito.
Ora, parecem desculpas antecipadas para uma eventual derrota, já que as pesquisas apontam que o deputado perderia no segundo turno, independentemente do adversário. Não há motivo para desconfiar da urna eletrônica. Um deputado que se dispõe a governar ao Brasil não pode trabalhar com especulações, e sim com fatos concretos. Desde 2002, em todo o território brasileiro já se utiliza a urna eletrônica e nunca houve fraude comprovada.
Para completar, em entrevista à Folha de S.Paulo, o ministro Dias Toffoli, atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que quem ganhar a eleição deve ser respeitado por seus opositores e que as forças políticas devem aceitar o jogo democrático. Na terça-feira (25), foi além e afirmou que “está atento a defender a democracia no Brasil”. Quando o chefe da mais alta Corte do Brasil precisa vir a público para fazer esse tipo de declaração é porque há algo de muito errado no País.
É condição sine qua non de qualquer regime democrático que os vencedores das eleições sejam respeitados por seus opositores. Isso é o mínimo que se espera dos derrotados. Caso contrário não se trata de uma democracia. Discordar das posições e atitudes dos adversários políticos é legítimo, mas não aceitar a derrota e querer tomar o poder à força é inadmissível. Sem respeito aos direitos humanos, independência dos poderes e liberdade de expressão, o Brasil voltará aos tempos das trevas.
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