Mesmo com praticamente todas as atenções voltadas para as eleições presidenciais dos Estados Unidos, é preciso continuar atento à realidade do Brasil. No início da madrugada de quarta-feira (4), em meio à apuração nos EUA, veio a público que o procurador-geral de Justiça do Rio, Eduardo Gussem, denunciou ao Tribunal de Justiça do Rio o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), seu ex-assessor Fabrício Queiroz e mais 15 pessoas por crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita no escândalo da rachadinha no antigo gabinete de Flávio na Alerj.
De acordo com o MP, Flávio é o líder da organização criminosa e Queiroz o operador do esquema de corrupção que funcionava no gabinete do senador. O caso não é novo. Mas ganhou destaque com a chegada de Bolsonaro à presidência e, a cada semana, parecem surgir novas revelações. A investigação do MP-RJ teve início em julho de 2018. Tudo começou depois que foi identificada uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz. Na sequência, verificou-se provas de que assessores tinham de devolver parte de seus salários a Queiroz. Esse dinheiro, ainda de acordo com o MP, era lavado e retornava para Flávio.
A situação do filho do presidente ficou ainda mais delicada depois que uma ex-assessora do senador admitiu ao Ministério Público ter devolvido a maior parte de seu salário para Queiroz. Somente ela teria repassado cerca de R$ 160 mil por meio de depósitos e entrega de dinheiro em espécie, o equivalente a 90% dos seus salários durante um ano.
Queiroz chegou a ser preso preventivamente em junho. Mas atualmente cumpre pena em regime domiciliar devido a uma liminar do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Fato é que o presidente Bolsonaro e o seu filho devem explicações à sociedade. Queiroz é amigo de Bolsonaro há mais de 30 anos. Não custa lembrar ainda que Queiroz, quando foi preso, estava na casa do advogado Frederick Wassef, em Atibaia do interior de São Paulo. Wassef era advogado de Flávio até aquele momento e só saiu do caso depois que Queiroz foi levado para a prisão em Bangu, sem também explicar com o amigo da família Bolsonaro foi parar dentro da sua casa.
Por enquanto, todas as respostas da família Bolsonaro têm sido evasivas. A última, por exemplo, dada pela defesa de Flávio, é que a denúncia já era esperada e não se sustenta. Diz, por exemplo, que trata-se de uma “crônica macabra e mal engendrada”.
Mas, o que Flávio precisa dizer é como fez o pagamento de escolas dos filhos e o plano de saúde da família com dinheiro vivo. Ou como utilizou a loja de chocolates de que era sócio. As suspeitas são de ele usou o estabelecimento para lavar até R$ 1,6 milhão. Até a compra e venda de dois apartamentos entre 2012 e 2014 está mal explicada.
É claro que as eleições nos Estados Unidos são importantes e influenciam diretamente o Brasil. Mas, antes de qualquer coisa, o País tem questões internas que precisam ser resolvidas. Uma delas é a participação ou não do filho do presidente no crime da rachadinha no Rio de Janeiro.
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