A Biblioteca Comunitária Império de Candace vai completar dois anos no dia 11 de março e, no curto período de atividades, já prestou serviços relevantes aos moradores da Vila Santa Catarina, região do Jabaquara. O que era para ser um espaço de incentivo ao hábito de ler, tornou-se um centro de apoio à comunidade.
A parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares possibilitou a 132 estudantes ingressarem no ensino superior. A parceria com o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) resultou na recolocação no mercado de 75 pessoas. A parceria com a Mastertech deu a oportunidade a dez jovens de fazer o curso de iniciação ao desenvolvimento de aplicativos para o Facebook e outras redes sociais. E a parceria com a Campus Party, considerada a maior organizadora de feiras de informática do planeta, colocou outros 15 eventos da empresa.
Instalada em uma casa modesta na avenida João Barretos de Menezes, 126, quase à entrada da favela Alba, a biblioteca também presta assistência a 241 famílias em estado de vulnerabilidade e risco social, distribui cestas básicas, fornece ajuda psicológica, faz atividades com as crianças, mantém curso de alfabetização para adultos e leva a 7ª arte à população, com uma sessão mensal de cinema.
Se não bastasse, a Biblioteca Comunitária Império de Candaces promove debates entre as lideranças comunitárias e, a cada seis meses, realiza o sarau “Descolonize-se”. “Estamos pensando em fazer o sarau de três em três meses”, adianta o funcionário público Daniel Souza, idealizador da biblioteca. “Temos recebido muitos artistas e levado entretenimento à comunidade”, ele acrescenta.
Souza estava em frente a uma lanchonete na Vila Santa Catarina, na noite de 28 de outubro de 2014, e foi abordado por policiais militares. Os agentes revistaram o carro, nada encontraram, mas, mesmo assim, o conduziram ao 35º DP (Jabaquara), onde foi autuado em flagrante por suposto tráfico. Foi julgado e condenado. “Eu não fumo nem cigarro, não bebo e jamais fui usuário de drogas”, ele argumenta. “Eu fui a quatro audiências com o juiz e em nenhuma delas o Pm que me prendeu compareceu. Fui condenado e o juiz ainda disse que eu deveria agradecer a Deus, porque a pena foi branda”, observa Souza.
O martírio do funcionário público estendeu-se até 24 de junho de 2015, quando foi colocado em liberdade. Ele foi para a avenida João Barretos de Menezes, onde praticamente passou a morar. “As pessoas me olhavam de forma estranha, mas aos poucos foram se aproximando. Fiz uma pesquisa com os moradores e apurei que três de cada cinco pessoas com quem conversei jamais haviam aberto um livro. Foi assim que surgiu a ideia da biblioteca”, ele recorda.
Souza expôs o plano a inúmeras pessoas e não demorou a receber ajuda de Ongs (Organizações não governamentais), de empresários da região e até da comunidade. A biblioteca tem hoje sete mil títulos, é frequentada mensalmente por uma média de 70 usuários e tinha, até terça-feira (14), 600 livros emprestados. E Souza cresceu junto com a instituião que criou: casou-se com a advogada Adriana Maciel (atual presidente da Império de Candaces), é o coordenador do Centro Municipal de Culturas Negras da Secretaria Municipal de Cultura e está cursando o 5º semestre de Direito. “Quando se entende a educação da forma que deve ser entendida, tudo flui”, ele conclui.
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