Entra ano, sai ano e a história sempre se repete. O paulistano está cansado de sofrer com os efeitos das enchentes de verão. Na última segunda-feira (10), junto com a chuva mais volumosa registrada em São Paulo em 37 anos em um mês de fevereiro, vieram, desabamentos, desabrigados e muitos transtornos. Para se ter uma ideia do caos, o Corpo de Bombeiros recebeu quase 8 mil chamados em menos de um dia e chegou a pedir que as pessoas não saíssem de casa.
O impacto financeiro foi forte também. A Bolsa de Valores fechou o dia em queda de 1,05% e o dólar chegou a R$ 4,32. O comércio varejista calcula perda de R$ 110 milhões.
O pior é saber que o cenário deve se repetir nos próximos anos. O problema não está apenas nas mudanças climáticas, mas sim no modelo de desenvolvimento adotado pela cidade, com canalização dos cursos d’água e impermeabilização do solo.
Se não bastasse tudo isso, o jornal O Estado de S.Paulo informou na terça-feira (11) que, entre 2015 e 2019, a Prefeitura deixou de gastar R$ 2,7 bilhões em obras para o controle de cheias na cidade. Os dados envolvem as administrações de Fernando Haddad (PT), João Doria (PSDB) e Bruno Covas (PSDB). A previsão era desembolsar R$ 3,8 bilhões em intervenções nos córregos, mas apenas R$ 1,1 bilhão foi gasto. Em 2019, as ações de limpeza e desassoreamento do Rio Tietê caíram à metade na comparação com 2018.
É mais do que necessário que Prefeitura e Governo do Estado elaborarem um efetivo plano de contingenciamento quando houver a previsão de temporais para que sejam feitos alertas à população. Especialistas apontam que temporais como o da última segunda-feira vão se tornar cada vez mais frequentes, por isso é fundamental dar mais ênfase à previsão e prevenção. Não dá mais para ficar colocando a culpa em São Pedro pelo volume de água que caiu. Se não é possível controlar o volume das chuvas, o fundamental é fazer obras que funcionem.
A solução, no entanto, não passa apenas por obras de engenharia. É preciso ir além de criar piscinões. Já passou da hora de a natureza ser valorizada e entendida como elemento da cidade. Somente com áreas verdes, jardins e parques é que São Paulo conseguirá evitar novas tragédias.
Há quem defenda, por exemplo, que a Prefeitura dê desconto no IPTU para quem trocar a área cimentada do quintal de casa por uma área verde. Ou para prédios que construam reservatório para chuva. São intervenções simples, mas com resultados importantes. Lixo atrapalha, mas não é o maior vilão de cheias.
Que o temporal de segunda-feira sirva como lição e una o poder público em busca de ações que possam melhorar a vida do paulistano, principalmente aqueles que moram nas regiões periféricas da cidade e mais sofrem nesta época do ano.
Check Also
Pandemia não está no ‘finalzinho’
Por mais que o presidente Jair Bolsonaro tenha afirmado, ainda em dezembro, que o Brasil …