O Dia do Trabalho que deveria ser de festas na terça-feira (dia 1º) acabou sendo de tristeza. Uma tragédia no centro da maior metrópole do país expôs ao mundo a incompetência de nossos governos e a degradação das condições de vida de milhões de brasileiros que não conseguem ter moradia digna. O incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, próximo ao Largo do Paissandu, que estava ocupado por dezenas de famílias de sem-teto, tirou a alegria dos atos promovidos por centrais sindicais para homenagear os trabalhadores. Além disso, deixou claro o desprezo com que o setor público trata os sérios problemas da população mais pobre.
Se a falta de moradia é responsabilidade dos governos federal e estadual, que não conseguem criar programas eficientes para suprir a demanda, a falha na fiscalização das condições de segurança do prédio é culpa de vários órgãos das três instâncias administrativas. A construção era tombada como patrimônio histórico e arquitetônico e foi sede da Polícia Federal. O ex-prefeito João Doria, que ficou 15 meses no cargo e o largou para tentar ser governador ou algo mais, afirmou, segundo a revista Veja, que o local era abrigo de facção criminosa e ponto de drogas.
Essa acusação é séria e precisa ser provada para não virar uma calúnia. Se for verdadeira (total ou parcialmente), aumenta a responsabilidade do Estado que falha também no combate ao crime. Doria parece ter cometido o erro de generalizar irresponsavelmente, pois não há dúvida que a grande maioria das vítimas não tem perfil de bandidos. A Prefeitura anuncia que, depois da tragédia vai intensificar a fiscalização de 70 prédios semelhantes ao desabado na terça-feira. Mais uma vez, vai trancar a porta depois da casa assaltada, como diz a sabedoria popular.
Vale lembrar que a atual administração municipal construiu toda sua estratégia de comunicação no slogan “Cidade Linda”. Nesse sentido viu-se até prefeito vestido de gari no primeiro dia de gestão e várias ruas movimentadas recebendo asfalto novo e sendo varridas. Mas como podemos chamar de “Linda”, uma cidade que abriga em seu centro, um edifício de 24 andares onde seres humanos de todas as idades habitam sem água quente, no meio do lixo, de ratos e baratas?
Outro ponto triste desse 1º de maio é que, com certeza, entre os desabrigados do edifício estavam alguns dos treze milhões e setecentos mil brasileiros que tiveram um outro motivo para não festejar o dia do trabalho. Essas pessoas formam o contingente de desempregados do pais, segundo pesquisa do IBGE, que apontou a taxa de desemprego no trimestre encerrado em março, chegando a 13,1% da população economicamente ativa.
Esse crescimento surpreendeu a muitos especialistas e contraria todos os entusiastas da recente reforma trabalhista que garantiam que ela criaria novas vagas. Confirmando a falta de efeitos positivos das mudanças, o número de posições com carteira assinada também se mostra em queda. Mais 408 mil brasileiros deixaram de ganhar o sustento na formalidade, atingindo-se hoje a menor número de pessoas desde 2012.
Diante da tragédia local do prédio incendiado que envergonha a cidade de São Paulo e da tragédia nacional do desemprego aumentando, só resta esperar que os próximos “dias do trabalho” sejam dignos de comemoração.
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