Desde a última quinta-feira (8), Brasília vive um clima de “vale tudo”. Deputados federais e estaduais podem trocar de partido, sem o risco de perder os mandatos por infidelidade partidária. Até o dia 7 de abril, os parlamentares estão dentro da chamada “janela partidária”.
O grande problema é que as trocas não são feitas dentro da convicção política de cada um, mas sim por questões financeiras. Na hora de escolher um novo partido, os parlamentares levam em conta, principalmente, qual é o valor que o partido oferecerá do fundo eleitoral para custear sua campanha. Este ano, por exemplo, cada candidato à Câmara dos Deputados poderá gastar, no máximo, até R$ 2,5 milhões.
Os deputados também estão de olho no tempo de rádio e TV que terão para a propaganda eleitoral. Quanto mais filiados a sigla têm, mais tempo de propaganda. O interesse é tanto que, somente no primeiro dia da janela, pelo menos 15 deputados trocaram de partido. Alguns estão sonhando alto, como o deputado do Rio de Janeiro Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência da República.
O Democratas foi um dos partidos que mais recebeu novos integrantes e aumentou a sua bancada de 33 para 37 deputados federais. O presidente da sigla, ACM Neto, espera alcançar a meta de 40 deputados até 7 de abril.
As mudanças de partido estão dentro da lei, mas a verdade é que acabam denegrindo ainda mais a classe política brasileira. Há casos de parlamentares que trocam de partidos totalmente antagônicos na sua ideologia. Ninguém parece preocupado com a linha programática das legendas, e sim com a questão financeira. O pior é que essa intensa troca de partidos entre os deputados deve dificultar ainda mais a renovação na Câmara. São grandes as chances de o povo, sem esperança de mudanças, acabar votando nos mesmos deputados de quatro anos atrás. Sem contar, é claro, que o sistema político favorece aqueles que já estão no poder.
Não à toa, pesquisa Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada na terça-feira (13), apontou que 44% dos eleitores se disseram “pessimistas” com a eleição presidencial deste ano. O levantamento ouviu 2 mil pessoas em 127 municípios entre os dias 7 e 10 de dezembro do ano passado. Dentre aqueles que se disseram pessimistas com a eleição, 30% apontaram a corrupção como principal motivo.
Justamente por causa da intensa troca de partido entre os parlamentares, o governo de Michel Temer (MDB) já admite trabalhar com uma base aliada mais reduzida até o fim do ano. Para não perder ainda mais deputados, o governo vai concentrar esforços em emendas e cargos para quem se mostrar mais leal ao presidente. Essa é mais uma tentativa de Temer de se segurar no poder diante de uma agenda extremamente negativa e agravada depois da quebra do sigilo bancário do presidente pelo Supremo Tribunal Federal e a sua inclusão no inquérito da Odebrecht na Lava Jato. E, assim, o Brasil parece continuar estagnado.
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